quinta-feira, 19 de junho de 2014

Há aranhas que comem peixes

Patas traseiras ancoradas numa folha ou numa rocha, patas dianteiras a tocarem na água. Uma aranha habituada ao habitat semiaquático está à espera que um insecto caia na água para o atacar e comer. Ela detecta os insectos pela vibração à superfície da água. Às vezes essas vibrações vêm de baixo, outra vezes é uma barbatana descuidada que toca na pata da aranha: é um peixe, que se tornará uma refeição.

Há décadas que se sabe que algumas espécies de aranhas comem peixes. Um estudo de revisão, publicado nesta quarta-feira na PLOS ONE, mostra que este tipo de predação ocorre em todos os continentes menos na Antárctica.

Martin Nyffeler, da Universidade de Basileia, na Suíça, e Bradley Pusey, da Universidade da Austrália Ocidental, analisaram mais de 80 casos de aranhas a alimentarem-se de peixes. Muitos dos casos foram publicados na literatura, mas os autores também tiveram acesso a informação não publicada de biólogos e fotógrafos. Alguns dos fenómenos de predação foram observados em laboratório, onde se teve oportunidade de ver pela primeira vez algumas espécies de aranhas a atacar e a comer peixes.

A investigação concluiu que há casos de aranhas a atacar peixes nas Américas, na Europa, em África, na Ásia e na Austrália. A América do Norte é a zona onde foram detectadas mais ocorrências, embora os cientistas justifiquem estes resultados por haver ali mais universidades e investigadores dedicados à ecologia. De resto, estes casos são mais frequentes nas regiões tropicais e subtropicais.

Há cinco famílias de aranhas em que este tipo de predação acontece. Destas, as famílias com mais espécies de aranhas a comerem peixes são as Pisauridae e as Trechaleidae. “A descoberta de uma diversidade assim tão grande de aranhas que atacam peixes é uma novidade. O nosso material sugere que os peixes podem ser presas ocasionais de uma importância nutricional substancial”, defende Martin Nyffeler, num comunicado da Universidade de Basileia.

Ao contrário do que estamos habituados a ver nas nossas casas, a captura destes peixes não depende de teias. Em lagos, rios, ribeiros, poças, pântanos, as aranhas picam os peixes na base da cabeça com as quelíceras e injectam veneno nestes animais com poucos gramas (alguns poderão chegar a ter 30 gramas). Mesmo assim, são bem maiores do que as aranhas que os atacam.

O veneno é composto por diversas moléculas, algumas são neurotoxinas específicas para os vertebrados. Alguns peixes morrem em 20 minutos, outros sobrevivem 50 minutos. As aranhas carregam os peixes para um local seco. Depois destes morrerem, os aracnídeos injectam enzimas digestivas no corpo dos animais. No fim, é só preciso sugar os nutrientes.

O processo pode demorar algumas horas, mas é recompensador. Segundo o artigo, grande parte da massa dos artrópodes, uma fonte frequente de alimentação das aranhas, é formada pelo exosqueleto e não tem valor nutritivo. Por isso, como a maior parte da massa dos peixes é músculo, estes animais são uma refeição desejada, embora rara, explica o artigo: “Provavelmente, os peixes são mais recompensadores do que um invertebrado com o mesmo tamanho, sobretudo a nível nutritivo e energético.”




Fonte: Publico

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