quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Azeite e óleo de girassol não aumentam risco de doenças cardiovasculares


A cozinha dos países mediterrâneos tem colocado nações como Portugal ou Espanha no grupo dos menos afectados pelas doenças cardiovasculares, associadas a uma alimentação baseada em gorduras e fritos, entre outros factores. Um estudo sobre a população espanhola agora publicado, mostra que a utilização de alimentos fritos, tipicamente no azeite e no óleo de girassol, não aumenta o rácio destas doenças ou da mortalidade, mesmo no grupo de pessoas que mais consome.

A investigação feita por uma equipa espanhola da Universidade Autónoma de Madrid e do Consórcio de Investigação Biomédica em Rede de Epidemiologia e Saúde Pública foi publicado no British Medical Journal e serviu para avaliar quais os riscos da utilização de gordura nos hábitos alimentares da população espanhola para as doenças cardiovasculares.

As gorduras têm dois papéis importantes nas doenças cardiovasculares. “A sua composição rica em colesterol faz aumentar este composto no sangue”, explicou ao PÚBLICO Mário G. Lopes, médico cardiologista e presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia. Por outro lado são a fonte das Lipoproteínas de baixa Densidade (LDL, sigla em inglês), também chamadas de “más gorduras”.

“Quando o LDL no sangue é elevado, enferruja e faz a obstrução das artérias. Quando é no coração causa um enfarte, no cérebro causa um AVC, mas é um processo geral”, disse o especialista, que é professor catedrático da Faculdade de Medicina de Lisboa. Além do colesterol, o risco das doenças cardiovasculares é maior nos homens, e aumenta com a idade, o consumo de tabaco, os diabetes e a tensão alta.

O estudo espanhol olhou especificamente para aterosclerose coronária, que é a obstrução dos vasos sanguíneos do coração. Para isso, a equipa espanhola reuniu a informação de 40.757 adultos com uma idade compreendida entre os 29 e os 69 anos divididos entre o Norte e o Sul de Espanha, que começaram a ser seguidos entre 1992 e 1996, e terminaram de ser seguidos em 2004.

A equipa aferiu dados como a educação, os hábitos alimentares, os hábitos de tabaco. Dois terços da população eram mulheres. De tempos em tempos era feito um inquérito sobre os hábitos de consumo alimentar, principalmente de fritos, que em Espanha são normalmente feitos em azeite e em óleo de girassol. Com estes dados, foi possível dividir a população em quatro grupos, dos que ingeriam menos até aos que ingeriam mais alimentos fritos.

A população analisada não tinha doenças cardiovasculares quando aceitou entrar no estudo longitudinal. Quanto a análise terminou, 606 pessoas sofreram enfartes e houve 1134 mortes. Mas, tanto os problemas cardiovasculares como as mortes estavam distribuídos igualmente pelos quatro grupos com diferentes registos de consumo de gorduras e fritos.

“Em Espanha, um país Mediterrâneo onde o azeite e o óleo de girassol é utilizado para fritar, o consumo de comida frita não está associado com a aterosclerose coronária ou com todas as causas de mortalidade”, explica a conclusão do artigo, que tem como primeiro autor Pilar Guallar-Castillón.

Segundo Mário G. Lopes, este estudo é “um avanço no conhecimento desta área”. O médico explica que ao contrário dos óleos vegetais e azeite que se utilizam nos países mediterrâneos, os países com maiores problemas de doenças cardiovasculares, como os do Norte da Europa e os Estados Unidos, têm uma dieta rica em fritos feitos à base de gorduras animais, ricos em colesterol.

O estudo espanhol mostra a importância da gordura que se escolhe para cozinhar. “O mito que a comida frita é, na generalidade, má para o coração não é suportado”, disse Hugh Tunstall-Pedoe no editorial da revista, professor emérito em epidemiologia das doenças cardiovasculares. O artigo também sublinha os malefícios dos óleos que são utilizados várias vezes, uma prática recorrente na fast food. E é mais uma prova a favor da cozinha mediterrânea, que tradicionalmente também é rica em vegetais e fruta, importantes para o combate destas doenças.


Fonte: Publico

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