quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Experiências de Quase-Morte


«Quando dei por mim, não estava a dormir. Estava a pairar por cima do meu próprio corpo». Margarida Rebelo Pinto relatou sua experiência de quase-morte depois de um AVC. No livro, da editora Ésquilo, «Relatos Verídicos. Experiências de Quase-Morte (EQMs)» há duas dezenas de experiências que contam como é «o outro lado da vida».

Apresentado esta quarta-feira, o PortugalDiário falou com um dos autores para quem o livro deixa a marca de que «há algo mais para além desta vida terrena». Apoiado em estudos científicos - contando com um publicado na prestigiada revista médica «Lancet» - e em dados médicos, a certeza ficou impressa: «Em termos científicos, já não se pode afirmar que a mente e a consciência dependem do cérebro e do corpo físico para permanecerem vivas e em pleno funcionamento».

Relatos de quem viu a vida fugir

São dezenas de portuguesas que o atestam, e uma mão-cheia de actores de Hollywood que não se furtam a revelar e como estas experiências são «vivências transformadores». «O traço comum a todas estas experiências está na forma como a vida destas pessoas mudou radicalmente», explica Patrícia Costa Dias, um dos autores.

Questionada se sentiu dúvidas quando ouviu estes relatos, Patrícia Costa Dias é peremptória: «Não. Muitas destas pessoas experienciaram estes relatos em tenras idades, sem terem ouvido outras histórias. Além disso, e como no estudo publicado na «Lancet» - em que as pessoas foram entrevistadas após terem tido a experiência, dois e oito anos depois, nunca alterando o testemunho - também nós entrevistamos algumas pessoas mais do que uma vez e os seus relatos mantiveram-se inalterados».

Portugal não tem base de dados científica

O livro conta com a coordenação do professor Manuel Domingos, presidente da Sociedade Portuguesa de Neuropsicologia, e com o contributo do cardiologista holandês Pim van Lommel, para explicarem os pontos de vista e os limites da ciência, e darem a sua perspectiva científica sobre o fenómeno.

O holandês foi entrevistado para o livro e acedeu à tradução do seu artigo científico, que inclui um estudo com 344 pacientes que foram reanimados com sucesso depois de uma paragem cardíaca em dez hospitais.

Sobre quando será possível fazer um estudo como o publicado na «Lancet» em Portugal, a autora fala no mínimo de cinco anos, mas sem optimismos atira a data mais para a frente: «Uma década. Não existe uma base de dados científica nos hospitais, ou num organismo central, o que torna muito difícil o estudo».

No prefácio, o professor de psiquiatria e de ciências da Consciência da Faculdade de Medicina de Lisboa, Mário Simões, refere aliás a esperança de que o livro possa «contribuir para que, num futuro próximo, possa ser criada uma base de dados sistematizada com todos os elementos (...) necessários a uma abordagem rigorosa e que sirva de referência para futuras investigações».

Também o professor Nuno Grande, professor da Universidade do Porto e figura emblemática do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, teve oportunidade de acompanhar, enquanto médico, quatro pessoas que passaram por EQMs.

No livro explica como um paciente, em coma, ouviu o que ele disse e menciona a importância da fundação BIAL, a que Nuno Grande está ligado, e que atribuiu um prémio, partindo do convencimento «que há alguma coisa para lá da morte que deixa marcas na vivência de todos nós, naqueles que continuam vivos».

A experiência também marcou uma das autoras. Patrícia Costa Dias revela que despiu todos os preconceitos e «cresceu». «Se tivesse que resumir a obra a uma palavra falaria de crescimento. Aprendi, evolui e cresci com este trabalho».
Fonte da notícia: IOL Diário

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