Um cientista que trabalha em um museu da capital americana, Washington, tem um trabalho incomum: ele cuida de um acervo com 35 mil amostras retiradas de 23 mil meteoritos diferentes e estuda as rochas para ajudar a esclarecer as origens do Sistema Solar.
A coleção do Museu Nacional de História Natural, ligado ao Instituto Smithsonian, inclui meteoritos que caíram em lugares como Argentina, Chile, Espanha, França, Estados Unidos e Canadá, além de rochas da Lua e de Marte.
O curador da coleção, Timothy McCoy, deixa claro que gosta de estar cercado pelas rochas. Ele explica que, desde jovem, sempre foi apaixonado por "sentir o espaço em suas mãos".
"Este é um pedaço de Marte", mostra McCoy pegando uma pequena rocha preta.
Depois mostra outra rocha à reportagem. "Não é uma construção teórica, nem um raio de luz que vem de uma estrela. É algo que se pode tocar: um fragmento da Lua", afirma.
Pesquisa
Como muitos dos meteoritos preservam as propriedades físicas e químicas de bilhões de anos atrás, estas amostras ajudam a entender os eventos das primeiras eras do Sistema Solar.
"Nunca pegamos amostras do lugar mais profundo da Terra e nem chegamos ao seu núcleo", diz McCoy.
"Assim, se alguém quiser saber como começamos para entender onde estamos agora, isto é o que essa pessoa precisa. Estas são peças fundamentais de nosso Sistema Solar", afirmou.
O problema é que os cientistas não têm todas as peças desse quebra-cabeças espacial. E por isso o trabalho de McCoy é relevante.
"Temos amostras tão imperfeitas do nosso Sistema Solar que, frequentemente, vemos uma peça do quebra-cabeça aqui, outra ali, e alguém tem que ser suficientemente capaz de descobrir se estão relacionadas ou não", explica.
"E também temos que apreciar o que não vemos. Boa parte do trabalho é procurar as coisas que
alguém sabe que deveriam estar ali, mas simplesmente ainda não encontramos."
Rochas e polêmicas
Na mesa do laboratório de McCoy, entre dezenas de amostras, há dois meteoritos que ele descreve como especiais.
O primeiro, diferentemente de quase todos, não pode ser tocado, está guardado em um recipiente selado.
O fragmento é de um meteorito chamado ALH84001. Ele foi encontrado na Antártida em 1984, tem 4,2 bilhões de anos e vem de Marte.
A amostra é importante pois tem minerais que, para serem formados, precisam de água, o que indica que deve ter existido água no planeta.
Além disso, em 1996 um grupo de cientistas sugeriu que a rocha poderia conter também sinais de vida microscópica, algo que ainda gera polêmica entre especialistas.
A segunda rocha é menos polêmica e, diferente do ALH84001, pode ser tocada. É um pedaço do meteorito Allende, que caiu no México em 1969 e tem 4,5 bilhões de anos.
Segundo o Instituto Smithsonian, o Allende é "pré-planetário" e sua importância é tanta que mudou o estudo dos meteoritos.
McCoy afirma que, se alguém dissolver partes desta rocha, poderá encontrar grãos minúsculos que não se formaram em nosso Sistema Solar, mas durante a morte violenta de outras estrelas.
O curador do Smithsonian sabe o valor deste meteorito e se emociona ao manuseá-lo.
"Se alguem quer ser um verdadeiro explorador espacial, isto é o que tem que analisar", afirmou.
Fonte: BBC Brasil
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