quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Minilâminas de pedra com 71 mil anos descobertas em África

Os novos achados fazem recuar em mais 30 mil anos a emergência das capacidades cognitivas humanas modernas.


Uma equipa de cientistas norte-americanos descobriu, na localidade de Pinnacle Point, na costa sul da África do Sul, pequenas lâminas de pedra calcinada com 71 mil anos que foram provavelmente utilizadas para fabricar ferramentas ou armas tais como pontas de lanças ou de setas.

Há poucos meses, cientistas europeus confirmavam para além da dúvida que uma outra série de ferramentas de pedra pré-históricas (também usadas como pontas de lanças e setas), provenientes de uma outra localidade do mesmo país, tinha pelo menos 44 mil anos (ver A cultura moderna nasceu em África há 44 mil anos?, PÚBLICO de 31.7.2012). Punham assim em causa a noção de que as primeiras culturas pré-históricas tecnológica e culturalmente modernas tivessem surgido exclusivamente na Europa — e, portanto ,posteriormente à saída de África dos primeiros Homo sapiens.

Os novos resultados, da autoria de Curtis Marean, da Universidade do Arizona (EUA), e colegas, sugerem agora que, na realidade, sofisticados procedimentos de fabrico de armas já existiam em África pelo menos 30 mil anos mais cedo do que isso. E não só: também indiciam que, ao contrário do que se pensava, essas tecnologias da idade da pedra não caíram várias vezes em desuso para reaparecerem mais tarde, mas foram sendo transmitidas de geração em geração, ao longo dos milénios. Os autores, que acabam de publicar os seus resultados na revista Nature, escrevem que isso significa que “esses primeiros humanos modernos tinham as capacidades cognitivas necessárias para conceber e transmitir com alta fidelidade as receitas dessas tecnologias complexas”. E a antropóloga Sally McBrearty, da Universidade do Connecticut, que comenta os resultados na mesma edição da revista, extrapola e sugere que, portanto, já possuíam uma linguagem.

Os novos achados consistem em pequenas lâminas de pedra, cujo fabrico, salienta esta especialista, “durava sem dúvida dias, semanas ou meses”, e que terá necessariamente sido interrompido “pela necessidade de dar atenção a tarefas mais urgentes”. Ora, “a capacidade de manipular imagens de objectos na memória e de executar procedimentos com certos objectivos em mente no tempo e no espaço (...) é uma componente essencial da mente moderna”.

Marean e colegas especulam ainda que o facto de terem sido capazes de fabricar armas deste tipo poderá ter sido essencial ao sucesso desses primeiros humanos modernos quando, mais ou menos por essa altura, começaram a espalhar-se de África para o resto do mundo. É fácil imaginar que os Neandertais, armados apenas com lanças projectadas pela força do braço, não tenham tido hipótese de sair vencedores quando foram confrontados com grupos armados de setas e de arcos, fazem notar.



Fonte: PUBLICO

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